terça-feira, 2 de março de 2010

PEDAGOGIA FREINET: UMA PROPOSTA DE EDUCAÇÃO VOLTADA PARA A VIDA.




Anete Tatiana de Souza Maion



RESUMO

Este artigo tem por objetivo refletir sobre a Pedagogia Freinet, uma proposta de educação voltada para o trabalho  como a arte de transformação da natureza, ou seja, do trabalho que dignifica o homem. Auto-didata de sua própria experiência, Celestin Freinet partiu de uma educação que tivesse o interesse das crianças como o referencial para a realização das atividades, fazendo assim, com que a aprendizagem se tornasse significativa. Também discutiremos  o que essa proposta apresenta de forma a contrapor à pedagogia tradicional e como apresenta  os elementos da organização do trabalho pedagógico, como: currículo, avaliação, relação professor e aluno, espaço/tempo, técnicas e metodologias de trabalho. É importante frisar que a Pedagogia Freinet tem como objetivo principal preparar o indivíduo para atuar na vida em sociedade, visando o cooperativismo e respeitando a individualidade de cada um.

Palavras-chave: Freinet; educação; trabalho; cooperação; vida autônoma.



1 INTRODUÇÃO

Neste artigo abordaremos a organização do trabalho escolar na educação a partir da Pedagogia Freinet. Essa teoria tem como proposta de trabalho uma pedagogia da ação, para que o aluno possa ter uma participação ativa e criativa durante sua formação, ampliando seu conhecimento  a partir do que vivencia no seu dia-a-dia.
            Célestin Freinet nasceu na aldeia francesa de Gars, nos Alpes Marítimos, em 15 de outubro de 1896. Sua primeira atividade, ainda na sua infância, foi pastorear ovelhas, mas sua primeira opção profissional, na juventude, foi pelo magistério. Autodidata, era um humanista por formação e um militante do cooperativismo. Embora pacifista, envolveu-se diretamente nas duas Grandes Guerras Mundiais, em que teve seus pulmões prejudicados pelo efeito de gases tóxicos, que acabou  por impedí-lo de concluir o Curso Normal.
            Pedagogo de sua própria prática, viajou muito para conhecer outras experiências pedagógicas, criticando-as e absorvendo delas o que achava positivo.
Crítico do ensino tradicional, Celestin Freinet organizou sua pedagogia em torno do trabalho, fundamentada em uma perspectiva que valoriza a relação entre a escola e a vida. Freinet teve uma forte influência das idéias de Marx e Engels, que o levou à construção de uma pedagogia socialista, que articulava as relações entre escola-trabalho-sociedade. O objetivo desta escola era  formar cidadãos autônomos e críticos capazes de transformar a sociedade em que vivem.

[...] devemos definir nós, o verdadeiro objetivo educacional: a criança desenvolverá ao máximo sua personalidade no seio de uma comunidade racional a que ela serve e que lhe serve. A criança cumprirá seu destino, elevando-se à dignidade e ao potencial do homem, que se prepara, assim, para trabalhar de maneira eficaz, quando se tornar adulto, longe das mentiras interessadas, pela realização de uma sociedade harmoniosa e equilibrada. ( FREINET, 1996, p.09).

                                      Sendo assim, Freinet idealizou uma escola que fosse centrada na criança, onde o papel do professor seria o de apenas orientar, mediar e ajudar a construção de sua personalidade. Contrapôs-se às disciplinas trabalhadas individualmente em compartimentos, a memorização, propondo um trabalho que partisse da vontade própria de cada aluno articulado a um ambiente educacional rico de materiais, de técnicas de trabalho e de vivências concretas para uma educação significativa e real.
                                      Como diz Freinet (1996, p.10):

[...] não podemos, atualmente, pretender conduzir metódica e cientificamente as crianças; ministrando a cada uma delas a educação que lhe convém, iremos nos contentar com preparar e oferecer-lhes ambiente, material e técnica capazes de contribuir para sua formação, de preparar os caminhos que trilharão segundo suas aptidões, seus gostos e suas necessidades.


           Celestin Freinet, falece no dia 8 de outubro de 1966, na escola de Vence.
A partir dessas considerações, serão abordadas as seguintes questões ao longo desse trabalho:
- O que esta proposta apresenta de forma a se contrapor à pedagogia tradicional?
- Como a Pedagogia Freinet discute os elementos da organização do trabalho pedagógico?
                                      Para realizar esta análise, destacamos os seguintes elementos da organização escolar: currículo, metodologias/técnicas, relação professor e aluno, espaço/tempo, avaliação. Estas questões foram analisadas a partir de pesquisa bibliográfica, tendo como referência as obras originais do autor para a construção  deste artigo.

                          2 TRABALHO: DE MARX À PEDAGOGIA FREINET

                                      O trabalho, conceito fundamental do Marxismo, está no centro do pensamento pedagógico de Freinet. Entendemos o conceito “trabalho”, como o processo de transformação da natureza em função da ação do homem sobre ela. Segundo Marx, o conceito “trabalho” pode ser explicitado em dois aspectos: o primeiro como a ação pura e simplesmente do homem sobre a natureza, a qual busca apreender o modo como os homens obtêm os bens de que necessitam, fazendo uma divisão desse trabalho, de maneira cooperativa,  apenas levando-se em consideração a faixa etária, a saúde e o gênero de cada indivíduo; o segundo aspecto, sendo o trabalho como objeto de compra  numa sociedade em que a proporção maior da produção fica para a minoria e a maioria, ou seja, os trabalhadores, ficam cada vez mais distantes do que se poderia dizer da justa distribuição da renda total que lhe caberia.

[...] É por meio da ação produtiva que o homem humaniza a natureza e também a si mesmo. O processo de produção e reprodução da vida através do trabalho é, para Marx, a atividade humana básica, a partir da qual se constitui a “ história dos homens”, é para ele que se volta o materialismo histórico, método de análise da vida econômica, social, política, intelectual. (Quintaneiro, 2002, p. 33).
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            Este ponto de vista marxista leva à construção de uma pedagogia socialista baseada nas  relações escola-trabalho-sociedade, assim, essas relações são invocadas a partir de diferentes formas; quer como união da escola com o trabalho produtivo, ou como simples justaposição dos dois. Dessa maneira um trabalho escolar que  promove a produção e a criação dá às crianças  a possibilidade de ultrapassar a prática, o aspecto técnico do trabalho, além de favorecer o crescimento intelectual, econômico e social.
            A escola deve viver no seio da atualidade e isso impõe uma revisão completa dos objetos de ensino. Esse contato com a atualidade permite à criança adquirir a ciência e combinar a teoria com a prática, além disso, promove a auto-organização das crianças, permitindo a construção de hábitos de cooperação e senso de responsabilidade diante da coletividade.
            A organização cooperativa assegura as condições de trabalho para que a criança não seja afastada do produto do seu trabalho, para que o trabalho escolar não constitua um trabalho alienado, levando-a tanto à auto-alienação, quanto à alienação em relação às outras crianças, membros da comunidade escolar. Estes conceitos: trabalho alienado, auto-alienação e alienação do homem em relação a outros homens, são dominantes no pensamento de Marx. Sabe-se que o “trabalho” é um conceito historicamente determinado em Marx, que mostra as condições da atividade humana nos quadros da economia política. Nas sociedades de classes, o homem é separado do produto de seu trabalho e do trabalho enquanto tal. Este trabalho alienado é um resultado histórico devido à divisão primária do trabalho.
  Assim, esta cooperatividade  da vida escolar visa não apenas colocar em evidência indivíduos com capacidade organizacional e com espírito de responsabilidade, mas também indivíduos que não sentem aversão pelo trabalho.

[...] É necessário também um perigoso acúmulo de erros, para suscitar na criança o receio e depois a aversão por uma função tão natural e nobre como trabalho.
Reponha esse trabalho no circuito da vida. Dê-lhe uma finalidade e um sentido. Que ele alimente e impulsione o comportamento natural, que se situe no núcleo do seu destino individual e social.Será preciso, talvez, ordenar os programas na nova empresa, equipada de espaço, de instrumentos, de arte e de luz, sem contar a alma e o ideal que são o sol de tudo isso.
Mas precisamos mais do que discursos para devolver ao trabalho a sua permanência e a sua dignidade. ( FREINET, 1996, p.35).

            As técnicas de trabalho, assim como a vida cooperativa, realiza-se com um objetivo concreto. Freinet define suas práticas pedagógicas como uma ruptura com a sociedade burguesa. Ele se diz educador proletário, comprometido com uma escola popular destinada a formar homens conscientes e responsáveis, aptos a assumirem as funções políticas sindicais ou cooperativas a serviço do povo.

[...] uma educação que corresponda às necessidades individuais, sociais, intelectuais, técnicas e morais da vida do povo na era da eletricidade, da aviação, do cinema, do rádio, do jornal, da imprensa, do telefone, no mundo que esperamos não tardará a ser o do socialismo triunfante. ( FREINET, 1996, p.07).

3 DA ESCOLA TRADiCIONAL AO CAMINHO DA ESCOLA DOS SONHOS: UMA DISCUSSÃO SOBRE OS ELEMENTOS DO TRABALHO PEDAGÓGICO


            Em suas obras, Freinet nos mostra sua insatisfação e preocupação com a fácil possibilidade dos educadores não resistirem ao ensino tradicional.

Nada é mais tentador para os educadores do que a escola tradicional; nada é tão perigoso. Ela separa a árvore de suas raízes, isola-a do solo que a nutri.
Cabe-nos reencontrar a seiva. ( FREINET, 1998, p. 83).
           
Freinet consegue ter uma visão que iguala a natureza do homem à natureza da criança rompendo com o pensamento tradicional, que coloca o professor como portador do saber e a criança como um adulto em potencial. Romper com a escolástica para Freinet é, principalmente,  propor uma outra concepção de trabalho: a do trabalho real “vivo”.
            Freinet nos faz parar para refletir sobre o real significado de uma pedagogia tradicional, autoritária, longe da vida e fora do contexto de vivência das crianças. O autor critica a postura do docente que, sem se preocupar com as “entrelinhas” de uma educação imposta, trabalha com conteúdos compartimentados, em que o mestre manda e os alunos simplesmente obedecem.
           Ele concorda com os conceitos de ordem, disciplina, autoridade e dignidade dentro do ambiente escolar, desde que resultem de uma organização do trabalho, em que o respeito seja fruto do cooperativismo, e que o professor seja capaz de partir do mesmo patamar de seus alunos, construindo juntos descobertas, conhecimentos e dignidade.

Arregace as mangas para trabalhar com as crianças. Deixe de dar ordens e castigar, atire-se ao trabalho com os alunos. Não tenha medo de sujar as mãos, de se machucar com uma martelada, de hesitar nos casos em que a criança mais viva domina a situação, de tatear, de se enganar, de recomeçar. Assim é a vida, e é o esforço que fazemos lealmente, para dominar seus incidentes, que constitui o principal elemento da nossa educação. (FREINET, 1996, p. 92). 

Em suas obras, o autor faz uma comparação da escola tradicional com a ciência médica, em que sempre procurou atingir a perfeição máxima, com horários rigorosos, sem se preocupar com os “pormenores”, em que se regula o alimento intelectual das crianças (disciplinas compartimentadas), isolada na escola: silêncio, frieza em relação às lições e deveres, sem nenhum tipo de relação ou contato com o meio de vida natural, ou familiar, asseio, ordem e tecnicismo.
Freinet denomina esta carência como escolastismo.

O hospitalismo foi uma blasfêmia científica antes de ser uma realidade para a qual se procuram, cuidadosamente, remédios eficazes.
O “escolastismo” será a blasfêmia pedagógica que aclimataremos nos meios educacionais, onde já introduzimos tanto outros neologismos. (FREINET, 1996, p. 93).

            Sendo assim, é imprescindível que o docente e seus alunos, juntos, busquem e relacionem suas vivências ao conhecimento, para que haja uma aprendizagem significativa
            Embora defendesse a educação ativa e prazerosa, Freinet apontava a importância de um planejamento que, apesar de flexível, possuísse objetivos claros e definidos. A Escola Nova, concepção de educação que vinha dos interesses da burguesia entre os séculos XVIII e XIX, rejeitava a escola tradicional, centralizando seus princípios nos meios (metodologia), em detrimento do conteúdo, não ia ao encontro dos interesses das classes dominadas.
            Para Freinet, a realidade educacional não pode ser dissociada da sociedade em que esta está inserida. A consciência deste vínculo entre escola e meio, além de possibilitar o êxito da educação, favorece o surgimento de algumas das condições necessárias à transformação da sociedade como, por exemplo, a compreensão da realidade e a prática cooperativa e democrática.
            Coerente com a afirmação acima, Freinet buscou uma pedagogia que pudesse atender a todos os indivíduos, independente de sua classe social, procurando, assim, envolver todas as crianças no processo de aprendizagem.

4 OS ELEMENTOS DO TRABALHO PEDAGÓGICO

·         Currículo  ( FREINET, 1996b)
           
            Freinet, antes de tudo, defendia uma educação que tivesse sentido para a criança, e cujas atividades e objetivos fossem coerentes com aquilo que esta necessitasse. A escola, portanto, deve preparar a criança pela vida e para a vida, dentro de uma participação ativa e dinâmica.
            Inspirado nas idéias de Marx a respeito do trabalho, que o considera como a  ação maior do homem, no qual este se identifica e realiza, Freinet defende que o trabalho deve ser o centro de toda a atividade escolar.
            O trabalho é a força que move o ser humano, que dá sentido e finalidade à sua vida e  que através dele desenvolve todas as suas potencialidades, pessoais e sociais. Desta forma, a atividade pedagógica só será eficaz e gratificante se estiver baseada neste princípio básico da natureza humana.
            É através do trabalho que o homem se constrói, compreende a realidade e cria relações com os outros indivíduos. Quando este está estruturado de uma forma democrática e comunitária, determina o envolvimento de todos os membros da comunidade em objetivos comuns, favorecendo o surgimento do sentimento de coletividade.
            É importante frisar que este trabalho não é considerado uma atividade que só possui sentido para a criança, dissociado das necessidades concretas da comunidade escolar (e também do mundo). Ele está inserido dentro da realidade social e comunitária da escola, possuindo, assim, sentido para o educando e para a própria vida.
            A maioria das atividades respeita o conteúdo programático do professor, que possui objetivos bem claros. O planejamento, no entanto, é flexível, se moldando de acordo com a motivação da turma. A maneira e a época em que os conteúdos serão introduzidos são estipulados de acordo com os interesses do grupo, mas os objetivos do professor são rigorosos.
            Ao reconhecer a importância dos conteúdos no processo de desenvolvimento do ser humano, (principalmente para as classes populares), a escola Freinet não despreza os objetivos que cada ano letivo possui, somente é flexível quanto à forma como estes serão introduzidos e desenvolvidos.

·         Metodologias/Técnicas ( FREINET, 1996b)

            Assim, motivados por atividades que possuem sentido e finalidade (porque inseridas num contexto mais amplo de construção da própria vida), os educandos aprendem através de suas experiências, como também através de aulas sistematizadas, nas quais contribuem para a solução de problemas baseados na realidade social. Aprendem a partir de suas reais necessidades como alunos concretos, inseridos numa comunidade concreta, com objetivos concretos (sempre com orientação e participação ativa do professor).
             A aprendizagem é entendida, neste contexto, como um “tateamento experimental”, onde os alunos, através do trabalho, partem para a procura de referenciais teóricos e práticos capazes de auxiliá-los na solução dos problemas existentes em seus projetos (que têm como base o conteúdo programático). A aprendizagem através do tateio se caracteriza pela repetição das experiências bem sucedidas e o abandono das que não trouxeram bons resultados. A partir disso, Freinet destaca a importância da assimilação dos reflexos mecanizados, considerados de grande importância para a realização de um trabalho eficiente.
            A memorização e a concentração, então, não são vistas como atividades penosas, pois fazem parte do próprio processo de trabalho. Apesar de exigirem determinados sacrifícios, não estão dissociadas da própria vida e por isso, devem ser encaradas como um dos passos necessários para a elaboração de um projeto. Desta forma, os fins motivam o educando em seu processo de aprendizagem.
            A prática da Pedagogia Freinet nos mostra inúmeros exemplos que endossam a concepção acima. Entre elas, a “imprensa” possui um papel de destaque, porque tem a função de dar sentido às produções das crianças, possibilitando a sua sistematização e a distribuição em maiores quantidades. Baseado na premissa fundamental da necessidade de comunicação e expressão do homem, o texto livre, o jornal mural, a correspondência inter-escolar e o livro da vida, ganham o objetivo maior de divulgação dos trabalhos dos alunos. Assim as atividades das crianças não possuem um significado somente “em si” (o trabalho pelo trabalho somente), mas visam à informação  (pesquisas), à comunicação (correspondências) e à divulgação ( obras). O desenho livre, apesar de não utilizar a imprensa, também se enquadra nos objetivos acima. Vale destacar que a alfabetização nas escolas Freinet baseia-se nesta concepção de dar um sentido real às produções das crianças, motivando-as.
            Apesar de estimular o tateamento experimental, o professor não possui uma postura de mero espectador das atividades dos alunos. Seu papel é ativo e proporcional às necessidades do grupo. Além disso, as tradicionais aulas expositoras são utilizadas, tanto quanto professor e a turma acharem que é preciso.
            As atividades pedagógicas são enriquecidas com todas as formas de expressão (sem ou com a imprensa), pesquisa, aulas expositoras e aulas-passeio, já citadas anteriormente. Além destas, vale destacar o papel dos projetos, dos cantos de atividades, do fichário escolar e das bibliotecas de trabalho, com grandes motivadores da aprendizagem.

·         Relação professor e aluno (FREINET, 1996b)

            As escolas Freinet são estruturadas comunitariamente. A prática democrática e cooperativa e o respeito ao ser humano são a base de toda e qualquer atividade.
            As atividades pedagógicas ocorrem a partir dos trabalhos escolhidos coletivamente. É importante destacar agora o papel que o professor e os conteúdos programáticos exercem dentro deste processo.
            O professor possui uma postura ativa, sendo considerado parte integrante do grupo. Apesar de suas opiniões e voto possuírem o mesmo peso que o de cada componente da turma, é respeitado como aquele que tem mais experiência e cuja função é justamente transmiti-la aos alunos.
            Desta forma, cabe ao professor explicitar seus objetivos e planejamentos, além de coordenar democraticamente as atividades e orientar a turma a respeito de atitudes e posturas. Suas opiniões, no entanto, não são impostas e, na maioria das vezes, o próprio movimento do grupo corrige e ajusta as dificuldades. Cabe ao professor, então, saber como e quando intervir. Podemos dizer, portanto, que este realmente exerce um papel de autoridade, mas não é autoritário.

·         Espaço/Tempo ( FREINET, 1996b)

Freinet se volta para a sala de aula, para a criação de oficinas (ateliês) que comporta um rico material em instrumentos, mas também, para as técnicas de trabalho que asseguram a relação entre teoria e prática.
            Nos ateliês, as atividades são divididas por tipos de trabalhos manuais e/ou intelectuais, que são organizados de uma maneira que os materiais necessários para o trabalho, fiquem à disposição das crianças, em prateleiras baixas, que também servem como divisórias entre os outros ateliês. Estas atividades são oferecidas a partir de um plano de trabalho feito pelo professor junto com os alunos, em que estes podem escolher autonomamente em que ateliê trabalhar naquele momento.
            Cada ateliê deve comportar um determinado número de crianças, onde todos possam trabalhar tranqüilamente.
            Na “escola freinetiana”, também deve haver um espaço fora da sala de aula, onde se possa cultivar flores, hortaliças, para criação de pequenos animais e que as crianças possam ter um contato direto com a vida.
            A aula-passeio também é um meio muito utilizado na Pedagogia Freinet, pois além de viabilizar o contato direto com a vida, com a natureza, com outras pessoas, outros tipos de estabelecimentos, é um momento rico de conhecimentos, pois pode ser utilizada tanto para pesquisas, como para que o professor possa iniciar um novo projeto de acordo com os interesses das crianças em determinado assunto que foi visto e experimentado por elas.

·         Avaliação ( FREINET, 1996b)

            O professor deve exercer uma posição ativa, orientando, ensinando, sistematizando conteúdos, sugerindo, canalizando as atividades para o seu planejamento e exigindo de seus alunos coerência, responsabilidade e comprometimento.
            As normas de avaliação da escola tradicional já não são válidas para a escola do trabalho. O sistema de notas baseado em lições memorizadas, provas com notas e médias reduz à função intelectualizada de todo o processo escolar.
            Na “escola freinetiana”, a avaliação é feita como um processo, em que a criança procura a medida e a avaliação de seu esforço. Aqui se encontra a importância dos planos de trabalho, pois quanto mais importante, complexa e demorada é a tarefa,  mais a criança sente a necessidade de se socorrer em alguns degraus dentre as etapas.
            Esta avaliação não deve ser feita apenas pelo professor, para que não haja parcialidade, arbitrariedade e enganos. Os próprios alunos devem participar da avaliação e de sua auto-avaliação dentro da comunidade escolar.
            Finalmente, esta avaliação não deverá ser feita sobre o resultado obtido, mas sim sobre o processo percorrido pela criança.          

CONCLUSÃO

            Este artigo perderá muito de seu valor se não for remetido à realidade concreta em que vivemos.Assim, é necessário perceber que a escola Freinet não tem a pretensão de ser a redentora da sociedade, como também não pretende solucionar todas as dificuldades apresentadas pelo sistema de educação pública brasileiro, visto que estas questões se situam num contexto mais amplo de realidade social.
            A Pedagogia Freinet somente se apresenta como um modelo de educação voltado ao trabalho, como um meio de preparação do indivíduo para a sua atuação na vida em sociedade, visando o cooperativismo, respeitando a individualidade de cada um e não o individualismo, que a escola tradicional acaba produzindo.
            Essa Pedagogia assume para fins educativos as necessidades de cada criança, para motivar, organizar o trabalho, realizar e para desenvolver sua personalidade  em relação com o seu meio. Essas necessidades não deixam de ser a expressão dos sentimentos e idéias, comunicação com os outros, criação, ação conhecimento, organização e avaliação.
            Mas é preciso que haja uma transformação das relações professor-aluno, pois a Pedagogia Freinet é uma educação baseada na confiança,  acompanhada por uma real atitude das crianças de se encarregarem de seu modo de vida e trabalho.
            Assim, o papel do professor e a responsabilidade da escola são de criar um meio educativo em que tais necessidades sejam sentidas e possam ser assumidas e então, satisfeitas pelo grupo.
            Percebemos, ao pesquisarmos a Pedagogia Freinet, que  vem ao encontro a estes objetivos e necessidades que precisam ser alcançados, que é possível preparar um futuro mais humanizado, que é possível construir uma sociedade em que os homens saibam cooperar e coordenar seus conhecimentos para o atendimento das necessidades de todos.
            É importante ressaltar que nesses estudos relacionados à Pedagogia Freinet, percebemos um encontro intuitivo com uma autêntica práxis pedagógica, uma práxis na qual a ação gera conhecimento e o conhecimento, por um movimento dialético, vem realimentar essa mesma ação.
            Por último, e talvez mais importante do que tudo o que foi dito até aqui, está o fato de que nós, professores e professoras, temos uma tarefa essencial: resgatar o valor da nossa profissão diante da sociedade.  É preciso que rejeitemos o sentimento de culpa e assumamos a responsabilidade pelo ato de educar. É preciso que exijamos o respeito a que temos direito, fazendo-nos ouvir nas respostas que damos ao problema da educação, sem ficarmos esperando de outros especialistas essas respostas. Não é mais possível que nós, educadores, fiquemos ouvindo o monólogo de outros, que se faz sobre nós. Também não queremos ficar sós com o nosso monólogo.
            Queremos o diálogo, e por isso apresentamos nossa palavra.
           


















Referências Bibliográficas:


FREINET, Celestin. A Educação do Trabalho. Tradução: Maria Ermantina Galvão G. Pereira.-São Paulo: Martins Fontes,1998, p. 9 – 339.


FREINET, Celestin. Para uma Escola do Povo. Tradução: Eduardo Brandão.- São Paulo: Martins Fontes, 1996b, p.1 – 127.


FREINET, Celestin. Pedagogia do Bom Senso. Tradução: J. Baptista.- São Paulo: Martins Fontes, 1996a, p.3 – 125.


QUINTANEIRO,Tânia & BARBOSA, Maria Lígia de Oliveira. Karl Marx. In QUINTANEIRO, Tânia et al. (org.). Um toque de clássicos: Marx, Durkheim e Weber. 2º ed., Belo Horizonte, Editora UFMG, 2002, p. 27 – 66. 

Projeto Leitura na educação infantil


Introdução
A escola possui uma sala ambiente com riquíssimo acervo de livros da Literatura Infantil.
Acreditando na importância do incentivo desse espaço, desenvolveremos o Projeto Sala de Leitura.
Ler para as crianças revela as múltiplas possibilidades que os textos oferecem. As crianças conhecem narrativas, lugares, personagens e autores e têm a oportunidade de se encantarem com a leitura.
O ato de ouvir e contar histórias contribui e oferece ao desenvolvimento infantil várias possibilidades de aquisição de conhecimentos. Somente iremos formar alunos que gostem de ler e que tenham uma relação prazerosa com a literatura se proporcionarmos a elas, desde muito cedo, um contato frequente e agradável com a leitura como prática social, ensinada em situações em que a turma toda participe, comentando o que foi lido, levantando e explicitando hipóteses, debatendo idéias.
Atitudes como essa compõem o chamado comportamento leitor, capaz de ser desenvolvido desde muito cedo com a ajuda dos mais experientes.
A figura de pais e professores é fundamental, pois eles assumem o papel de condutores de seus ouvintes para um mundo fantástico.
Ao efetuar essa ação aparentemente banal, o interpretante informa à criança que essas marcas têm poderes especiais: basta olhá-las para produzir linguagem.
As turmas serão divididas entre os períodos da manhã e da tarde, em que cada uma terá seu dia e horário específicos de acordo com a rotina pré estabelecida. As crianças participarão de atividades diversificadas de leitura, preparadas e planejadas com antecedência, de acordo com a faixa etária e conteúdos pertinentes.

Objetivos

ü Estimular o interesse pela leitura de diferentes portadores de textos;
ü Estimular a leitura a partir das imagens que apresentam;
ü Diferenciar imagem de escrita;
ü Favorecer o aprimoramento da expressão oral e gestual, comunicação, atenção,percepção, discriminação, criatividade, etc.;
ü Favorecer a interação escola X família levando livros para serem lidos em casa, bem como o cuidado e responsabilidade com o mesmo;
ü Ampliar o vocabulário;
ü Oportunizar a formação de sequência lógico-temporais;
ü Interpretar, concluir e levantar hipóteses;
ü Permitir a livre-expressão do que a criança ouve, vê, sente, pensa, imagina, gosta, etc.;
ü Estimular a reflexão de um mesmo texto ou história;
ü Fazer intercâmbio oral, ouvindo com atenção e formulando perguntas;
ü Recontar histórias de repetição e/ou acumulativas com base em narrações ou livros;
ü Relacionar texto e imagem ao antecipar sentidos na leitura de quadrinhos e tirinhas em quadrinhos;
ü Ler textos conhecidos de memória, como parlendas, adivinhas, quadrinhas e canções, de maneira a descobrir o que está escrito em diferentes trechos do texto, fazendo o ajuste do falado ao que está escrito.

Estratégias
Ø Selecionar a leitura com antecedência, preparando o ambiente de acordo com a proposta;
Ø Em algumas leituras, caracterizar-se de acordo com a história para criar maior aproximação da criança ao mundo da fantasia;
Ø Dar vida aos personagens através de objetos, fantoches, cartazes, etc.;
Ø Fazer com as crianças produções artísticas para representar determinadas leituras;
Ø Uso do nome como identificação pessoal para registro dos livros lidos;
Ø Empréstimo de livros;
Ø Utilizar jogos a partir das histórias lidas para desenvolvimento de diferentes conteúdos;
Ler, ler, ler, ler